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28/10/2011 02h30 - Atualizado em 28/10/2011 14h27

Ingrid Betancourt fala sobre lições após sete anos de cativeiro

Ex-senadora colombiana emocionou o público durante o Fórum Internacional de Estratégia, Gestão e Excelência.

Por: Felipe Gibson

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Ele pode vir motivado por razões diferentes e se materializar em situações distintas, mas em síntese o medo é algo natural de qualquer humano. Um sentimento de temor, que ao mesmo tempo em que gera desconforto, traz a oportunidade de repensar comportamentos, ideais, ou a vida como um todo. É a lição que a ex-senadora e ex-deputada colombiana, Ingrid Betancourt, deixa dos sete anos de cativeiro que passou após ser sequestrada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Na última palestra do Fórum Internacional de Estratégia, Gestão e Excelência promovido até esta quinta-feira (28) no Teatro Riachuelo, Betancourt não centralizou o debate. No palco, entrevistada pelo coordenador de conteúdo e âncora do evento, Carlos Alberto Júlio, a ex-senadora falou das lições tiradas de sua experiência traumática, mas não deixou de abordar política e sociedade de seu país de origem, assim como da América Latina em um contexto geral.

“Em algum momento de nossas vidas nos deparamos com aquilo que mais tememos, por isso também é importante respeitar nossos medos”, abriu Ingrid Betancourt, que hoje acredita na transformação do medo em drama de uma vida como a grande chance de enxergar a si mesmo e descobrir o potencial que carregamos. ”Podemos ser aquilo que queremos ser, essa é a maior definição de liberdade, que nos constitui como seres humanos e não pode ser tirada de nós”, sentencia.

Dos anos em cativeiro na selva amazônica, a ex-senadora recordou os dias acorrentada pelo pescoço, das duras punições pelas tentativas de fuga, dos momentos de humilhação, e das pessoas, sejam elas prisioneiros ou os comandantes violentos com quem conviveu. A aceitação da realidade demorou, junto com a esperança de um fim rápido para aquele sofrimento, expectativa que a acompanhou durante o primeiro ano. “Era uma espécie de negação do que ocorria”, relatou. 

A tomada de consciência veio com uma tentativa de fuga, seguida de recaptura e castigo. Em uma situação humilhante diante dos guerrilheiros, veio a reação. “Tomadas de decisão levam tempo, mesmo sem a liberdade de escolha, eu tinha a liberdade de decidir como agiria, e como eu seria”, afirma Ingrid, que conta ter se negado a fazer o que lhe pediam, chegando a ser reprimida pelos próprios prisioneiros. “Não podia me defender fisicamente, mas podia defender minha alma”.

Da relação com os violentos comandantes das Farc, veio mais uma mudança de visão. Deles ganhou uma bíblia e um dicionário, os dois maiores companheiros durante o cativeiro. “Mesmo quando a gente não sente que há um elo, a gente consegue criar essa ponte e quando essa oportunidade aparece não devemos descartá-la. São canais que nos guiam para encontrar caminhos e valores em cada um” aconselhou a ex-senadora, que colocou a palavra como principal agente capaz de provocar mudanças.

Sem ter mais ambições na política, Ingrid Betancourt traçou a realidade de uma Colômbia dividida em minorias prósperas e uma maioria pobre, que nem ao menos possui identidade. Para ela, é preciso reconceitualizar a sociedade colombiana. “Após o sequestro minha reflexão tem ponto de vista diferente. A Colômbia é o país que os colombianos querem”, disse. Na visão da ex-senadora, um país é o resultado do que a sociedade quer que ele seja. “A primeira coisa que precisa ser transformada é o coração. Há um mundo globalizado na violência. Nós precisamos globalizar o amor”, conclui.

 


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