Parceria com japoneses pode tornar Natal pólo na pesca de atumSerão capacitados 380 tripulantes para operar os 16 barcos japoneses no litoral potiguar. |
Por: Felipe Gibson
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Uma parceria entre a empresa brasileira Atlantic Tuna e o governo do Japão promete transformar Natal em um pólo na pesca de atum no Oceano Atlântico. Está prevista a chegada de 16 barcos orientais, que serão operados por tripulantes japoneses e 380 brasileiros treinados no Rio Grande do Norte por meio de parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Federação das Indústrias do RN (Fiern). A expectativa é que o negócio movimente R$ 114 milhões por ano.
Os barcos de última geração podem pescar a profundidades e distâncias muito além da capacidade das atuais embarcações em operação no Brasil. De acordo com o presidente da Fiern, Flávio Azevedo, o comprimento do espinhel - linha utilizada na pesca do atum - das embarcações brasileiras, varia de um a dez quilômetros, enquanto os japoneses trabalham com linhas de até 250 km.
Além da distância, os equipamentos orientais podem atingir até um quilômetro de profundidade. "Aqui no Brasil a pesca é superficial, o que só nos permite pescar o chamado atum ‘do bonito'. O peixe que está a um nível mais profundo é de mais qualidade. Cada barco pode pescar 500 toneladas, das quais 70% é atum", detalha o presidente da Fiern. Os outros 30% devem se dividir em atum "do bonito" e meka, mais conhecido como "peixe espada".
Até o momento, três barcos japoneses estão ancorados no Porto de Natal. Uma das embarcações deve ir ao mar nesta sexta-feira (28), enquanto
outras duas estão paradas aguardando a chegada de documentos para
operar.
Azevedo ressalta que pesou para a na escolha japonesa o fato de Natal ser um ponto próximo de todos os produtores de atum, além de já existir no litoral potiguar a atividade de barcos nacionais e até espanhóis na pesca do peixe. Flávio Azevedo explica que todo o investimento do negócio ficará a cargo dos japoneses, e se mostra otimista com o futuro.
Com o aeroporto de São Gonçalo do Amarante operando, o presidente da Fiern reforça que o dinheiro gerado pela pesca do atum se multiplica. "O aeroporto nos trará linhas diretas com outros países, nos possibilitando a venda para os Estados Unidos, por exemplo", explica. Além disso, Azevedo ressalta que a expectativa é receber novas empresas interessadas no negócio, de forma que mais tecnologia japonesa venha a operar na capital potiguar.
Atualmente das 196 mil toneladas de atum pescadas no oceano, o Brasil só responde por 2%, índice que cai quando se fala no peixe pescado em níveis profundos. Quanto à pesca da meka, o país pesca 3.400 toneladas das 11.100 toneladas pescadas por outras frotas.
Capacitação
Apesar da parceira entre a Atlantic Tuna e os japoneses, para o negócio se concretizar era preciso cumprir a legislação brasileira, que através da chamada Lei dos 2/3, só permite a operação de empresas estrangeiras com a contrapartida de que 2/3 dos trabalhadores sejam brasileiros. Como não existia mão de obra qualificada para operar os barcos japoneses a disposição, a operação ficava parada.
A Atlantic Tuna e o Sindicato da Indústria da Pesca (Sindpesca) procuraram apoio da Fiern, que em trabalho conjunto com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), abriu uma nova porta para o projeto. Em novembro do ano passado, o Conselho de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) publicou uma portaria que flexibilizou a Lei dos 2/3 para o negócio do atum, dando um prazo de dois anos para que fosse capacitada mão de obra suficiente a atender a demanda dos 16 barcos japoneses.
Com uma tripulação de 24 pessoas, as embarcações japonesas poderão operar com apenas quatro brasileiros inicialmente. Até o fim do ano o número deverá ser de sete, e ao término do segundo ano sobe para 15. Segundo o diretor regional do Senai/RN, Rodrigo Diniz de Mello, o objetivo é capacitar 380 profissionais nos dois anos.
A primeira turma, formada por 20 pescadores, começa a capacitação na próxima segunda-feira (31) no Centro de Tecnologia Aluízio Alves. O curso inicial terá duração de quatro semanas. Em outro centro, localizado em Santa Cruz e que será aproveitado pelo Senai/RN, acontecerá um curso de um ano, em que os participantes vivenciaram o ambiente em alto mar. Instrutores japoneses serão responsáveis por ministrar os cursos.
"Os barcos passam 100 dias no mar. É preciso adaptar os pescadores a esse confinamento", conta o diretor regional do Senai/RN. Até o fim do ano, a expectativa é receber do governo japonês um simulador de operação de navio para o projeto de capacitação. "Apesar de ser um projeto aberto, o RN não abre mão de ser o pólo central na qualificação da mão de obra", ressalta o presidente da Fiern, Flávio Azevedo.