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04/09/2015 08h54

Déficit orçamentário põe pressão no país, diz Armínio Fraga

O déficit previsto na proposta orçamentária de 2016 é de R$ 30,5 bilhões

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O déficit de R$ 30,5 bilhões previsto na proposta orçamentária de 2016 põe pressão no país e não apenas na meta de inflação para o ano que vem. A avaliação é do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que participou nesta quinta-feira (3) do primeiro dia da conferência internacional Banking in Emerging Economies (BEE 2015), promovida pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape), na zona sul do Rio.

“Põe pressão em tudo. A sensação é de que a responsabilidade fiscal está suspensa. Sei que o quadro atual é difícil, mas, assim mesmo, é um problema [para a inflação] com certeza”, disse.

Segundo ele, a negociação do Orçamento no Congresso e as declarações de parlamentares de que a proposta precisa voltar para o Executivo, que tem a missão de definir os cortes necessários, é comum nas relações entre os dois poderes. “Isso faz parte. Creio que vivemos um momento muito tenso por várias razões. Economia em recessão, crise política, crise policial. Isso tudo faz parte de um quadro geral muito difícil. Enfim, vamos ver para onde tudo isso vai. Espero que se corrija.”

Para Fraga, o país está em um caminho insustentável. “Isso é aritmético. É meio óbvio. Não tem como ficar com juro a 7% fazendo a dívida crescer. Até onde isso pode ir? Ninguém acredita que vai continuar para sempre. A questão é: o que fazer e como?”

O economista disse que o Banco Central tem de perseguir a meta de inflação. Para isso, precisa ter a colaboração de outras áreas do governo, especialmente da área fiscal. Apesar de não querer fazer previsões, adiantou que essas questões podem ser resolvidas no futuro. “Que tem luz, tem, mas ela está longe. Algumas propostas boas foram apresentadas. A questão é começar a gerar resultado. Alguma luz, para não exagerar, mas ainda é difícil.”

Fraga avaliou ainda que as discussões em várias direções sobre a situação econômica e as medidas que devem ser adotadas acabam por dificultar a solução dos problemas. Ele disse não acreditar que o país tenha vocação suicida e para ficar fazendo marola sem abordar as questões, que exigem uma visão de curto prazo mais tranquila na formulação.

“Hoje essa confusão toda atrapalha. As pessoas estão preocupadas com muitos assuntos ao mesmo tempo e não conseguem dar uma resposta mais completa e mais convincente a este quadro, que é um quadro de crise. Não adianta tapar o sol com a peneira. Isso precisa ter uma resposta à altura”, apontou.

Sobre a possibilidade do país perder o grau de investimento pelas agências de risco, informou que o risco existe, "mas é um aspecto limitado". "Ele diz respeito à capacidade do Brasil pagar sua dívida externa, que, acredito, não está em questão. Me preocupa mais o quadro geral."

Professor da Escola de Negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/Ufrj), Ricardo Pereira Câmara Leal, que também participou do encontro, disse que também há conflito nos partidos da base aliada, o que, segundo ele, gera uma dificuldade a mais. “É um momento que teremos de chegar a uma espécie de pacificação dos ânimos e tentar verificar se conseguimos prosseguir em um caminho razoável. O próprio governo vem tentando isso, mas ele mesmo está com dificuldades com seus mais próximos”, destacou.

Para Leal, do ponto de vista político, o principal problema é o corte de gastos. “É a questão fundamental, a questão básica. A gente está vendo a dificuldade do Orçamento apresentado, as próprias divisões que existem em função do Orçamento.”

O professor lembrou da dificuldade para o Executivo definir cortes no Orçamento. “Existe uma rigidez do que já está contratado, que independe de quem está lá. Previdência, funcionalismo, todas as transferências constitucionais etc. Tudo isso é rígido e está dado. Quando se olha tudo isso se vê que a flexibilidade é pequena”, concluiu.

 

Fonte: Agência Brasil


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