Turismo injeta R$ 11,3 bilhões no RN e ratifica papel de um dos motores da economia potiguar, aponta estudo inédito da FecomércioA dado coloca o estado na 4ª posição nacional e na 2ª do Nordeste, atrás apenas de Alagoas quando o assunto é o peso do setor na geração de riquezas para o estado |
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Luciano Kleiber
O turismo potiguar, por muito tempo percebido apenas como uma vocação natural, ganhou agora números precisos e inéditos que revelam o seu real peso na economia do estado. Segundo o estudo inédito da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio RN): "Economia do Turismo - Vai Turismo 2025", elaborado com base em metodologias da ONU e da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), o Rio Grande do Norte movimentou R$ 11,3 bilhões com o turismo em 2024, atingindo seu recorde histórico e consolidando o setor como um dos principais pilares da economia estadual, com participação de 6,62% na economia privada potiguar.
A dado coloca o estado na 4ª posição nacional e na 2ª do Nordeste, atrás apenas de Alagoas quando o assunto é o peso do setor na geração de riquezas para o estado (não em valores movimentados, registre-se, neste caso, somos apenas o 5º colocado do Nordeste, atrás inclusive de Alagoas). Mais que isso: o turismo representa, proporcionalmente, mais para o PIB potiguar do que para estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, todos com estrutura econômica muito mais diversificada.
"O turismo é, hoje, uma atividade com relevância equivalente à da construção civil e da agropecuária no Brasil - e, no Rio Grande do Norte, vai além disso. É um dos setores que mais geram emprego e que mais rapidamente distribuem renda", resume o economista William Figueiredo, assessor da Presidência da Fecomércio e autor do estudo.
O levantamento também expõe a dimensão oculta do setor: o turismo não é uma atividade isolada, mas um conjunto de 70 atividades econômicas distintas, que vão de hospedagem e alimentação a transporte, cultura, lazer e locação de veículos
Essa estrutura foi definida a partir das chamadas Atividades Características do Turismo (ACTs), reconhecidas pela ONU e pelo IBGE, e forma o que os especialistas chamam de "cadeia produtiva do turismo" - uma engrenagem que liga restaurantes, hotéis, bares, agências de viagens, transporte terrestre, aéreo e marítimo, locadoras, eventos culturais e esportivos, entre outros.
Quanto cada segmento leva do bolo
O estudo detalha pela primeira vez quanto cada ramo econômico fica com os recursos que circulam no turismo - e o resultado mostra uma concentração expressiva nas atividades voltadas ao atendimento direto do visitante.?Em 2024, os serviços às famílias (que englobam hospedagem, alimentação, lazer e agenciamento de viagens) ficaram com 81,9% de toda a remuneração gerada pelo turismo potiguar.
Na sequência, vêm os transportes (11,4%) e as atividades culturais e de lazer (6,7%). Entre os segmentos individuais, o ranking é dominado pelos três grandes motores do turismo potiguar: Restaurantes e similares - 36,6% da remuneração total do setor; Hotéis - 23,8%;Lanchonetes, casas de suco e similares - 10,7%.
Esses três segmentos, sozinhos, concentram 71% de toda a renda gerada no turismo do estado. Ampliando para os dez principais, o percentual chega a 87%, o que demonstra a força da gastronomia e da hospitalidade como eixos estruturantes da atividade.
Outros destaques aparecem nas locadoras de automóveis (4,9%), agências de viagem (3,1%) e bares e casas de entretenimento (3,3%) - segmentos que, juntos, reforçam o perfil de um setor essencialmente urbano, voltado para o consumo imediato e de alta capilaridade econômica.
Natal, o coração do turismo potiguar
Entre os municípios, Natal responde por 58,1% de toda a receita do turismo do RN, o equivalente a R$ 6,57 bilhõesem 2024. A capital figura entre as 20 maiores economias turísticas do Brasil e na 4ª posição entre as capitais nordestinas, atrás apenas de Recife, Salvador e Fortaleza.
A estrutura da capital reflete o padrão do estado: 86% da renda turística vem de serviços às famílias, com forte peso de restaurantes (36,5%), hotéis (26,1%) e agências de viagem (4,6%).
Mesmo após as quedas de 2015 e 2020, Natal retomou trajetória de crescimento vigoroso no pós-pandemia, com expansão acumulada de 52% entre 2019 e 2024, superando a média nacional
Além de Natal, outros polos relevantes aparecem no estudo: Mossoró - R$ 928 milhões (8,2% do total estadual), impulsionada por turismo de negócios e eventos; Tibau do Sul (Pipa) - R$ 790 milhões (7,0%), com forte presença internacional; São Gonçalo do Amarante - R$ 533 milhões (4,7%), capitalizando o fluxo aéreo do Aeroporto Aluízio Alves; Parnamirim - R$ 524 milhões (4,6%), com expansão do turismo corporativo e gastronômico.
O top 10 potiguar reúne 89% da receita total, sendo oito municípios litorâneos e dois do interior (Caicó e Currais Novos) - estes últimos com destaque para o turismo religioso, cultural e de eventos.
O ineditismo do estudo e o que ele revela sobre o Brasil
Um dos méritos do levantamento é o caráter pioneiro: o Brasil ainda não possui uma Conta Satélite de Turismo oficial, como mantêm 76 países sob metodologia da ONU. Assim, o estudo potiguar figura entre os primeiros do país a aplicar integralmente o modelo internacional de mensuração da economia do turismo.
Essa ausência de estatísticas nacionais consistentes faz com que a importância real do turismo brasileiro - estimada em R$ 900 bilhões e 7,7% do PIB em 2024 - muitas vezes passe despercebida.
O Rio Grande do Norte, ao adotar a metodologia de Contas Satélites proposta pela ONU, coloca-se como referência técnica no Nordeste e no Brasil, sendo hoje um dos poucos estados que podem medir com precisão quanto o turismo gera de riqueza, renda e empregos. O estudo indica ainda que, em 2019, o turismo no RN já valia mais que setores tradicionais: era 1,3 vez maior que a indústria extrativa, 1,4 vez superior à agropecuária e 1,6 vez acima das atividades financeiras.
Essas proporções ajudam a reposicionar o turismo não apenas como vitrine cultural e ambiental, mas como atividade de base econômica, comparável às grandes engrenagens produtivas do estado.
O turismo como multiplicador social
O impacto do turismo vai além do PIB: trata-se de um setor de distribuição rápida de renda, com forte encadeamento local. Cada real gasto por um turista no RN circula por uma ampla teia de negócios - do taxista ao vendedor de coco, do garçom ao guia, do artesão à pequena pousada familiar.
Não à toa, a remuneração dos trabalhadores do turismo representa 95% de toda a massa salarial gerada nas 70 atividades listadas, segundo o levantamento.
O pós-pandemia também revelou a resiliência do setor: após uma queda brutal em 2020 (-31,9%), a atividade voltou a crescer de forma acelerada, com expansão de 57% até 2024 e expectativa de mais 5,6% em 2025 - um ritmo acima do PIB nacional, estimado em 3,4%.

