Soneca escolar: SESI Escola Macau integra pesquisa do Instituto do Cérebro para aprimorar alfabetizaçãoO estudo, orientado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro – cujo campo de pesquisa se estende aos sonhos e à memória – busca aprimorar a prática da leitura aliada ao sono após as aulas. |
Um breve cochilo entre aulas pode ser um grande aliado no processo de aprendizagem de alunos em idade de alfabetização. É o que a estudante de mestrado Flora Assaf, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Ice-UFRN), busca consolidar com sua pesquisa "Soneca Escolar", em recente ampliação para a SESI Escola Macau.
O estudo, orientado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro - cujo campo de pesquisa se estende aos sonhos e à memória - busca aprimorar a prática da leitura aliada ao sono após as aulas. Vinculado ao Laboratório do Sonho, sono e memórias, coordenado também pelo pesquisador, o projeto teve início na última terça-feira (12).
A metodologia da pesquisa consiste em um mês de soneca de até 2h após o período das aulas e do almoço. Ou seja, o projeto não interfere no conteúdo aplicado em sala de aula, mas busca compreender a fixação dele após o sono. "Nosso objetivo é avaliar se a soneca auxilia na consolidação dessa aprendizagem", disse Flora. Essa é a primeira vez que a metodologia é utilizada dessa forma, sem estar aliada a atividades complementares que interferem no conteúdo dado em sala de aula.
Ela explica que a pesquisa conta com a aplicação do teste de leitura de Palavras e Pseudopalavras para medir o desempenho dos estudantes antes e depois do período de intervenção, a soneca. "Nele, a criança lê em voz alta uma série de palavras reais e outras palavras que não existem, mas que são escritas com os sons ‘reais' da língua. Com isso podemos ver se elas estão conseguindo decodificar aqueles grafemas de forma correta e qual a velocidade", detalha Assaf.
A iniciativa tem como base estudos anteriores que apontam como a soneca auxilia os alunos a reterem o que aprenderam, conduzidos pelos pesquisadores Sidarta Ribeiro e Arzin Torres. "Sidarta pesquisa a relação sono e aprendizagem há quase 20 anos. Ele já havia feito algumas pesquisas sobre o papel da soneca na escola com alunos mais velhos, até que, no doutorado de Arzin Torres, eles elaboraram um protocolo de soneca e atividades de alfabetização para o 1º ano do fundamental", relembra Flora.
Segundo a pesquisadora, a escolha por trabalhar com crianças no início da alfabetização se deve ao potencial de impacto dessa intervenção em fases futuras da vida. "Acreditamos que uma eventual melhora não tem efeito apenas nas habilidades de leitura e escrita, mas em todo o processo de aprendizagem. A língua é o meio pelo qual aprendemos todos os outros conhecimentos e habilidades na escola", explica.
A parceria entre SESI-RN e ICe se deu através de um convite do Departamento Nacional do SESI a Sidarta Ribeiro, após conhecimento da sua linha de pesquisa. Já a escolha da SESI Escola Macau se deu por ser a única unidade da rede no RN a possuir turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Antes do início dos testes houve uma palestra na escola de Macau sobre a importância do sono para a aprendizagem, proferida pelo pesquisador Sidarta Ribeiro. O início da pesquisa, consolida, portanto, a continuidade dessa parceria.
Pais, alunos e escola amigos da soneca
A pesquisadora comentou ainda que o projeto foi bem recebido pela comunidade escolar, pais e responsáveis, o que foi importante para a sua realização. "O projeto foi abraçado tanto pela escola quanto pelas famílias. "O engajamento da escola foi fundamental para que a pesquisa pudesse acontecer, toda a equipe trabalhou para que chegássemos aqui. As famílias, mesmo com as mudanças na rotina que o projeto implica, têm sido parceiras", comentou Flora.
O início do projeto só aconteceu após reunião com pais e responsáveis, que foram orientados sobre as etapas da iniciativa e participaram da entrega dos kits, compostos por um colchonete e travesseiro personalizados.
A superintendente regional do SESI-RN, Danielle Mafra, destaca a importância da iniciativa como aliada no processo de aprendizagem dos alunos. De acordo com ela, o projeto complementa a missão da instituição. "O SESI-RN tem a missão de promover educação de qualidade e inovação pedagógica, e iniciativas como essa reforçam o nosso compromisso. Ao abraçarmos um projeto científico com embasamento sólido, estamos oferecendo aos nossos alunos oportunidades únicas de aprendizagem e desenvolvimento", disse.
Mafra comenta ainda que espera resultados positivos e duradouros. "Acreditamos que essa experiência trará resultados positivos, não apenas no desempenho de leitura, mas também na formação de hábitos saudáveis que podem impactar toda a trajetória escolar e de vida dessas crianças", finalizou.
Segundo a diretora da SESI Escola Macau, Aldécia Cortês, a colaboração fortalece os laços entre escola e comunidade, valoriza a ciência como ferramenta de transformação social e contribui para a formação de cidadãos mais conscientes. "A iniciativa é extremamente relevante para a integração da comunidade escolar", destaca.
Entenda a metodologia
As crianças têm até duas horas para dormir após o almoço. Elas vão para a aula de manhã e, às 11h30, quando normalmente iriam para casa, ficam na escola, almoçam e vão para a sala da soneca, onde permanecem por período determinado, explica a pesquisadora.
Após a coleta inicial, a equipe retorna na semana seguinte ao término do prazo para realizar uma nova rodada de testes, comparando os resultados e avaliando possíveis avanços no desempenho dos alunos.
Flora Assaf explica ainda o motivo do uso do método de leitura de Palavras e Pseudopalavras como medidor dos resultados. "Em teoria, o leitor fluente é aquele que consegue identificar qual som tem aquela combinação de letras, independentemente de a palavra ser conhecida por ele ou não. Então, usando pseudopalavras, como vopeja, naiotese, tartos, por exemplo, conseguimos saber se a criança leu de forma correta porque sabe que som essas letras fazem", explicou.
A pesquisadora comenta, portanto, que a atividade pode ser ampliada para novas escolas. "Nosso objetivo é sim levar a soneca escolar para o máximo de escolas possível - eventualmente. Nesse momento estamos trabalhando com um determinado número de escolas para primeiro encontrar qual é o melhor protocolo, para depois escalar a quantidade de escolas e alunos", finaliza.

