“Herança maldita”: presidente da Câmara de Parnamirim quebra o silêncio e expõe rombo deixado por antecessorSegundo Cesar Maia, o seu antecessor deixou uma dívida de aproximadamente R$ 2 milhões. |
Depois de seis meses de silêncio institucional, o atual presidente da Câmara Municipal de Parnamirim, vereador César Augusto Maia (PL), usou a tribuna da Casa nesta quinta-feira (17) para revelar a real situação financeira herdada da gestão anterior.
O recado foi direto, ainda que sem citar nomes: a gestão do ex-presidente Wolney França (PSC) deixou uma dívida de aproximadamente R$ 2 milhões, o que comprometeu o funcionamento do Legislativo e até gerou entraves para o repasse de recursos federais à Prefeitura.
"Assumimos no dia 1º de janeiro e já no dia 4 havia folha salarial dos terceirizados atrasada. Encontramos duas folhas do INSS pendentes, o que travou a certidão da Câmara e impediu, inclusive, que o município recebesse o FPM", afirmou César. Segundo ele, foi necessário negociar com a Receita Federal e a própria prefeita Nilda Maciel (Solidariedade) para parcelar os débitos e restabelecer a regularidade fiscal da Casa.
Apesar de ter mantido, até agora, um discurso de continuidade e harmonia institucional, o presidente decidiu subir o tom. "O que me revolta é a injustiça. Ficamos calados seis meses, enquanto levávamos pancada todo dia. Não atrasamos uma folha sequer. Honramos os compromissos. E estamos organizando uma gestão transparente e responsável", disparou César Maia.
A fala é interpretada nos bastidores como uma ruptura definitiva com o ex-presidente Wolney, até então tratado com discrição por César, apesar dos fortes sinais de desconforto desde o início do mandato. Ambos fazem parte da base da prefeita Nilda, mas a relação entre eles vinha azedando desde a transição - e agora o racha se torna público.
A exposição das dívidas herdadas e dos obstáculos enfrentados para regularizar a situação fiscal da Casa tem efeito duplo: ao mesmo tempo em que distancia César de Wolney, serve também para posicioná-lo politicamente dentro da base governista, mirando espaços futuros - especialmente numa conjuntura que já começa a se mover em torno das eleições municipais de 2026.
Apesar do tom técnico do discurso, o gesto foi político do início ao fim. Além de destacar que a gestão atual tem mais vereadores, mais servidores convocados do concurso e mais demandas administrativas, César fez questão de enfatizar que, mesmo assim, a nova mesa diretora mantém a Câmara "produtiva, sustentável e, principalmente, responsável".
O ex-presidente Wolney França, por sua vez, ainda não se manifestou. Mas fontes próximas indicam que ele foi pego de surpresa com a dureza das declarações. Há quem diga que o movimento de César teve o aval velado de lideranças do próprio Executivo, incomodadas com os desdobramentos de pendências que a Prefeitura teve de enfrentar por conta dos débitos legislativos.
Enquanto isso, Parnamirim, terceiro maior colégio eleitoral do estado, vê a temperatura da política local subir com a antecipação dos debates sobre sucessão e com o reposicionamento de peças-chave dentro do tabuleiro. E, como é típico por ali, o que parece uma simples prestação de contas, é, na verdade, mais um lance de uma disputa silenciosa que só está começando.

