No Fio da Navalha: Zenaide Maia entre a lealdade que parece faltar do outro lado e a própria sobrevivência políticaCom duas vagas ao Senado em disputa, as projeções eleitorais apontam para uma eleição acirrada. |
A senadora Zenaide Maia (PSD-RN) tem diante de si o mais delicado tabuleiro político de sua trajetória. Candidata natural à reeleição em 2026, ela se vê cercada por aliados que já não a tratam como prioridade - e por adversários que ainda não se sabe se vão confrontá-la ou tentar cooptá-la.
Com duas vagas ao Senado em disputa, as projeções eleitorais apontam para uma eleição acirrada. O senador Styvenson Valentim (PSDB), com ampla exposição, base fiel e capital político consolidado, desponta como favorito a uma das cadeiras. A segunda, essa sim, virou alvo de uma guerra fria - e cada vez menos silenciosa - entre Zenaide e a governadora Fátima Bezerra (PT), sua aliada histórica.
Os sinais do racha são cada vez mais evidentes. O irmão e principal articulador político de Zenaide, o deputado federal João Maia (PP), lançou a bomba ao declarar que Zenaide e Fátima são "adversárias naturais" por uma vaga no Senado. Poucos dias depois, a presidente eleita do diretório do PT no RN, Samanda Alves, subiu o tom ao afirmar que o partido terá "plano B" caso Zenaide não se alinhe integralmente aos projetos do petismo potiguar.
Na prática, a mensagem é clara: a vaga do PT será ocupada por quem jogar segundo suas regras.
Zenaide, que construiu sua imagem política a partir de um campo mais progressista, já deu sinais de desconforto com os rumos do PT local, mas ainda evita rompimentos, mesmo tendo visto o marido, Jaime Calado, deixado à própria sorte na disputa pela prefeitura de São Gonçalo do Amarante no ano passado. Só que o tempo corre. E, com ele, as articulações se aceleram.
Nos bastidores, cresce a especulação de que a senadora poderia construir uma chapa alternativa de centro, tendo como principal aliado o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), que vem se consolidando como nome competitivo para o Governo do Estado. Uma aliança Zenaide-Allyson uniria o voto urbano de Natal e Mossoró, com a senadora carregando o discurso da moderação e do equilíbrio entre os polos.
Outra hipótese que começa a surgir, ainda que mais incerta, seria um movimento de aproximação com a centro-direita - campo onde já está Styvenson mas que também é povoado por nomes como o senador Rogério Marinho (PL), o deputado General Girão (PL), Paulinho Freire (do União Brasil, partido de Allyson), Álvaro Dias (Republicanos) e o próprio João Maia. Neste cenário, Zenaide teria que recalibrar seu discurso e seu eleitorado, abandonando de vez a imagem de senadora independente de esquerda que a projetou em 2018.
O desafio é justamente esse: sobreviver politicamente sem perder a coerência que a fez ser quase uma surpresa na eleição de 2018 e a faz ainda respeitada pelos dois lados e no Senado. O que parece cada vez mais improvável é manter-se em cima do muro por muito tempo. A relação com o PT se fragiliza a olhos vistos, e a hora da decisão se aproxima. Resta saber se Zenaide optará pelo salto solo, pelo abraço improvável e incerto à direita, ou por um pacto centrista que pode redesenhar o mapa eleitoral de 2026 no Rio Grande do Norte. A conferir.

