Transcrevemos, a seguir, a entrevista cedida pelo Dr. Vitor Hugo de Oliveira - Chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical ao jornal O Povo on line - Fortaleza/CE:
"Fruticultura ou silvicultura"?
"Para semear pomares é necessário investir em tecnologia, correção de solos, combate de pragas".
"Para se entender a crise por que passa a cajucultura no Ceará é preciso distinguir pomares de florestas. Boa parte da produção do Estado ainda é proveniente dos cajueiros gigantes plantados nos anos 1970 para reflorestamento. Essas plantações, hoje com baixa produtividade, receberam pouco ou quase nenhum manejo ou trato cultural. São florestas de caju que sustentam uma atividade extrativista.
É um erro esperar das florestas o retorno que a fruticultura pode gerar, sobretudo quando a equação envolve solos pobres e irregularidade de chuvas. Para semear pomares é necessário investir em tecnologia, correção de solos, manejo correto, combate e prevenção de pragas e doenças.
Ao longo de 25 anos, a Embrapa Agroindústria Tropical - antigo Centro de Pesquisa do Caju - vem oferecendo ao setor agroindustrial diversas soluções tecnológicas. Para a cajucultura, apresenta um portfolio que vai do campo à indústria, envolvendo melhoramento genético, controle de pragas e doenças, manejo, pós-colheita, industrialização e aproveitamento de resíduos.
São 12 cultivares de cajueiro com maior produtividade, melhor qualidade do pedúnculo e da castanha. Por meio de tecnologia pós-colheita foi possível aumentar a vida útil do pedúnculo de dois para 20 dias, viabilizando o transporte e a comercialização do caju de mesa entre diferentes regiões. O pedúnculo pôde ser transformado em diversos produtos, alguns altamente inovadores, como o corante amarelo de caju, que oferece ao mercado um substituto saudável para corantes sintéticos rejeitados em virtude de possíveis danos provocados à saúde.
Todo este pacote de tecnologias está disponível à sociedade e ao mercado. Muitas dessas soluções já existem há anos, mas não foram adotadas a tempo de evitar a atual situação, em que os industriais cearenses precisam importar castanha da África para abastecer a indústria instalada na terra do cajueiro anão precoce.
Para tentar reverter à crise, as políticas públicas vigentes no Estado apostam na substituição de copas e na distribuição de mudas. É importante, mas não é o suficiente. A pré-safra do cajueiro se aproxima e velhos problemas devem se repetir. A praga do oídio vem há dois anos evoluindo sem que as medidas de controle recomendadas pela pesquisa sejam aplicadas. A produtividade continua decrescendo. É necessário fazer mais.
A Embrapa continua buscando soluções para novos problemas que se apresentam. Contudo, de nada adianta o investimento em pesquisa se não houver adoção de tecnologias e mudança de paradigmas para evoluirmos do extrativismo e da silvicultura para o agronegócio pleno."
Registramos que essa situação também se aplica ao setor da cajucultura do Estado do Rio Grande do Norte, já que a cadeia produtiva do caju potiguar regride a cada ano.
Nota: agradecemos ao economista Aldemir Freire (http://economiadorn.blogspot.com) por postar no seu blog e enviar a presente reportagem.